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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sabe o que IVETE SANGALO têm a ver com a BMW M3 FROZEN BLACK?

BMW M3 Frozen trás


Entreguei o BMW M3 Frozen Black no escritório da importadora em São Paulo e uma música não me saía da cabeça. “Cheiro de pneu queimado, carburador furado, coração dilacerado”, martelava a letra de Carro Velho, que ficou famosa na voz de Ivete Sangalo quando ela ainda liderava a Banda Eva.
Eu não gosto de axé e não nutro especial simpatia por “Vevete”. Por que, então, esse hit não me deixava em paz? Por que, dias depois, a voz da baiana continuava a me perseguir? A resposta, creio, está em “pneu queimado” e “coração dilacerado”. Não, o BMW M3 não tem carburador.
Fato é que o aroma de borracha frita no asfalto e a dor no coração ao devolver esse belo exemplar são as lembranças mais latentes de um veículo que foi chamado por aí de “o carro do Batman” e “o automóvel mais malvado do Brasil”.
Sim, visual e mecanicamente, ele é muito malvado. A exclusivíssima pintura em preto fosco (não é envelopamento, pelo amor dos meus filhinhos), as rodas escuras aro 19 e os fortes vincos aerodinâmicos — característicos da divisão Motorsport da BMW — fazem dele um sujeito mal-encarado, pronto pra te dar uma porrada na fuça. Força para isso, este carro certamente tem: o motor V8 aspirado gera 414 cv de potência e 42,9 kgfm de torque. É suficiente para fazer um pequeno planeta pegar no tranco.
BMW M3 Frozen frente
O preto é fosco, mas nunca diga que o carro é envelopado: a pintura é de série (Edurado Enomoto/R7)
“Te encaro, rapaz”
Decidido a não me intimidar, entrei no BMW M3 Frozen Black confiante.
— Eu te encaro, rapaz. Não adianta botar essa banca pra cima de mim.
Chave no contato, aperto o botão de ignição. Um estrondo sacode o carro. A rotação sobe, depois desce ligeiramente e se estabiliza. Ainda assim, os oitos pistões furiosos, capazes de deslocar 4 litros de gasolina, fazem o M3 chacoalhar mesmo enquanto está parado. Do escapamento quádruplo sai um silvo sinistro. Medo.
Antes de pegar a estrada, lembro-me de alguns detalhes importantes. Há apenas quatro desses carros no Brasil, então nem pense em arranhá-lo. Lavar, só com água, nada de sabão. O M3 Frozen Black também está equipado com o Competition Package, que rebaixa a suspensão em 10 mm e deixa os sistemas de controle mais permissivos/divertidos. E não acabou: só aquele teto de fibra de carbono, que reduz o peso e abaixa o centro de gravidade, provavelmente vale mais do que a sua casa.
A primeira impressão ao volante, no entanto, é comedida. Da até vontade de tirar um sarro do carrinho. O câmbio automatizado de sete marchas e dupla embreagem trabalha civilizadamente. A aceleração em condições normais é boa, mas nada incrível.
— Cadê sua malvadeza toda, seu BMW? Fica botando banca e não entrega.
BMW M3 Frozen faróis
Como um animal acossado, ele pisca os faróis e vem pra cima, rugindo alto (Eduardo Enomoto/R7)
A hora do espanto
Como disse Ivete Sangalo, “é perigoso provocar aquilo que você não conhece”. Mentira. Ela nunca disse isso. Mas eu disse, logo depois de levar uma metafórica porrada na fuça. O segredo para acordar a besta do pneu queimado e coração dilacerado é um botãozinho com a letra M colocado no volante. É ele que diz pros sistemas eletrônicos do carro que o cara que está guiando é um perfeito maluco.
Pressionado, esse portal do Apocalipse M detona uma batalha de cavalos de potência. Parece que todos os 414 animais são soltos ao mesmo tempo. Você pisa no acelerador, o câmbio reduz imediatamente, o ronco metálico vai para as alturas e o carro, que antes estava ali, não está mais. Os seus olhos ficaram lá pra trás, presos pela impiedosa inércia.
“Números, números, quero números”, diria Ivete. Mentira, ela jamais diria isso. Mas eu conto mesmo assim. O 0 a 100 km/h é feito em 4,5 segundos, ou 0,2 segundo a menos do que o M3 normal. A linha vermelha de corte do motor fica pra lá das 8.300 rotações. Se você não sabe o que isso quer dizer, dê uma olhadinha no painel do seu carro popular. Pode chorar agora.
Enquanto chego a uma curva e reduzo as marchas por meio das “borboletas” no volante, essa coisa chamada transmissão automatizada de sete velocidades e dupla embreagem realiza, por conta própria, um punta-taco de fazer inveja a pilotos profissionais.
Nesse cenário, não resisto a entrar em um túnel do Rodoanel, em São Paulo, e afundar o pé no acelerador, elevando as rpm ao limite. O som é diabólico. Queria tê-lo gravado para usar como toque no celular.
M3 Frozen interior
Interior preto tem costuras vermelhas e azuis e apliques em fibra de carbono (Eduardo Enomoto/R7)
Me dá um, Ivete
A essa altura, você provavelmente já percebeu que o BMW M3 Frozen Black é exclusivo, malvado e divertido. Deve ajudar ainda mais se eu disser que, com os sistemas eletrônicos ligados, é quase impossível tirá-lo da trajetória em uma curva. Ele anda colado ao chão, e seu cérebro sofre mais deslocamento lateral do que os pneus do carro.
Honestamente, pouco me importa se o banco do passageiro é estreito para um ocupante com as cadeiras mais avantajadas. Também não estou nem aí para a dor na perna direita causada pela falta de apoio, perceptível apenas se você for muito alto. E as pancadas da suspensão nos buracos de São Paulo? Não dou a mínima.
O que eu quero, afinal, é cheiro de pneu queimado e coração dilacerado. Para obter isso, desligo os controles de tração — nunca faça isso em uma via pública — e piso fundo. A fumaça significa menos alguns milímetros de borracha sobre a roda, mas alguns momentos a mais de alegria na vida.
O preço por tudo isso é astronômico: o BMW M3 Frozen Black custa R$ 443 mil. Dona Ivete, como forma de compensar por esse maldito hit que não sai da minha cabeça, bem que poderia me dar um.

De R7

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